De volta para o futuro (as Parcerias que proporcionam desenvolvimento).
O tema deste blog deve ter feito muitos, pelo
menos os que nasceram na década de oitenta (ou antes), se lembrarem da ficção
científica estrelada pelo ator Michael J. Fox (cujo personagem se chamava
MartyMcFly). Na série, Marty encontra seu amigo,
o cientista Dr. Emmett Brown (interpretado por Christopher Lloyd) que revela
ao rapaz um DeLorean DMC-12 modificado para tornar-se uma máquina do tempo.
A resposta: PDP - Parcerias para o Desenvolvimento
Produtivo.
Para quem havia
respondido a enquete, no site, passemos então aos esclarecimentos.
Em 2008, o setor de Saúde representava 8% do
Produto Interno Bruto (PIB) (segundo estudo da Confederação Nacional das
Indústrias chegou a 10,2% em 2013). O
mercado farmacêutico nacional movimentou em 2013 R$ 58 bilhões. Conforme
projeção, o Brasil será em 2015 o 5º ou 6º maior mercado do mundo. A evolução
do faturamento da indústria farmacêutica reflete claramente este potencial de
crescimento. Porém,
a maioria destes recursos circula para fora do país! Sim, ainda é imensa a
dependência tecnológica e produtiva do Brasil.
Em
relatório publicado em janeiro de 2013, a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) apontou que 48% dos insumos farmacêuticos ativos utilizados no
Brasil entre 2010 e 2012 foram fabricados na China; e 30% na Índia. No mesmo
período, os insumos de origem brasileira corresponderam a apenas 2%.
Em 2012
o déficit da balança comercial do setor saúde atingiu o patamar de
aproximadamente US$ 11 bilhões, considerando-se todo o complexo econômico e
industrial da saúde. A compra de medicamentos foi responsável por US$ 6,114
bilhões, e de princípios ativos, por US$ 2,612 bilhões deste montante.
A
análise da estrutura produtiva ainda revela a existência de importantes
gargalos estruturais na cadeia produtiva nacional neste setor.
E o que a Funed tem com isso?
Primeiramente
é importante compreendermos o que é o Complexo Econômico e Industrial da Saúde.
Esta expressão refere-se a um sistema que incorpora a indústria, a cadeia de
distribuição e comércio, além de englobar a rede de prestação de serviços de
atendimento hospitalar, ambulatorial, diagnóstica e terapêutica.
A
nomenclatura “complexo” indica a intensa relação econômica entre várias
indústrias (fornecedores, prestadores de serviços e consumidores) e que são
ainda regulados por um ambiente institucional bastante específico.
O Ministério da Saúde vem buscando fortalecer
este complexo através de políticas (mais do que acertadas) que se prevalecem de
conceitos como uso do poder de compra do Ministério da Saúde, transferências de
tecnologias, redução dos déficits da balança comercial, dentre outros.
Como uma das principais estratégias de
desenvolvimento deste complexo, destacam-se as Parcerias para o Desenvolvimento
Produtivo, que são parcerias que englobam o fornecimento e/ou desenvolvimento
de produtos ancorados em um processo de transferência de tecnologia.
Esta estratégia tem como objetivo, entre
outros, levar o Brasil, através dos laboratórios públicos oficiais (aqui entra
a Funed) a ter domínio sobre o conhecimento científico e tecnológico em áreas
estratégicas, principalmente aquelas que causam dependência tecnológica. Funciona
quase como uma máquina do tempo, capaz de fazer os laboratórios públicos
evoluírem décadas em alguns anos.
O que
tem dado certo? (Andando de DeLorean para o futuro em pouco tempo).
Ao nacionalizar a fabricação de produtos de saúde
por meio de parcerias com empresas nacionais e estrangeiras, o Brasil economiza
em média R$ 4,1 bilhões por ano, estima o governo.
Assim, esta política de transferência de
tecnologia contribui para reduzir o déficit comercial no complexo industrial da
saúde. Ao todo, o Brasil já formalizou 104 PDPs. A Funed
participa de 7 destas parcerias voltadas para a absorção de tecnologias de
medicamentos estratégicos para o SUS.
E quais as vantagens para a Funed? No caso da Fundação Ezequiel Dias, as PDPs
ajudam a ampliar o campo de atuação e garantem o aumento do faturamento, que saltou
de 32 milhões em 2008 para cerca de R$ 280 milhões (valor estimado em 2014). Entretanto,
a maior vantagem é intangível, proporcionada pela absorção e disseminação do
conhecimento, na melhoria dos processos internos e no aumento da capacidade de
aprendizagem e inovação da instituição.
Mesmo nas hipóteses mais críticas de
dificuldade de absorção de tecnologia nos prazos estabelecidos, deve-se
considerar que o modelo híbrido de transferência e aquisição dos produtos gera
economia para os cofres públicos.
O que
ainda pode melhorar? (Lições para não pararmos no tempo e não voltarmos ao
passado).
As oportunidades geradas pelas PDPs são imensas,
mas existem riscos inerentes ao processo. O recente caso do doleiro Alberto
Youssef trouxe a tona algumas fragilidades que precisam ser gerenciadas.
- A seleção e a gestão das parcerias devem ser transparentes, amparadas pelos critérios legais estabelecidos pelas normas, como a Portaria 837/2012. Deve-se considerar as regras do jogo, como a lista dos produtos considerados estratégicos para o SUS.
- Os laboratórios públicos devem ser sinceros ao propor as parcerias, verificando critérios como: existe uma capacidade estrutural instalada ou mesmo negociada para assumir esta parceria? Esta questão deve fazer parte da análise de viabilidade.
- Os parceiros privados devem ser idôneos, sérios e comprometidos, assumindo parcerias que de fato sejam feitas no modelo “ganha-ganha”.
- As regras das transferências devem estar escritas de forma clara e honesta nos contratos e as transferências devem ser gerenciadas de forma sistematizada, por exemplo, por meio de ferramentas de gestão de projetos.
- Jamais se deve assumir uma transferência de tecnologia apenas como uma nova possibilidade de receita. A Política foi feita para que os laboratórios públicos sejam estruturados e para que o ambiente produtivo nacional seja fortalecido, não para que se repasse ou simplesmente distribua medicamentos para o governo federal.
Particularmente,
considero que os riscos podem ser mitigados e que as oportunidades geradas pelas
Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo são imensas.
E você?
Como acha que podemos utilizar esta oportunidade para alavancar os avanços da
Funed? O que sugere para aprimorarmos as parcerias vigentes e ampliarmos nosso
rol de parcerias?